Queda de raios e episódios de tempestade
Análise de Portugal 2024
Leia a nossa análise meteorológica, climática e eléctrica dos episódios de tempestade em Portugal continental em 2024.
2024 em resumo
Joris Royet, Chef de projet Météo, METEORAGE
Com mais de 24.000 raios nuvem-solo (CG) detetados, 2024 foi o quinto ano com maior atividade de queda de raios em Portugal desde o início dos registos do METEORAGE. Esta atividade elétrica concentrou-se principalmente no mês de junho, que registou mais de metade das deteções do ano. As gotas de frio, localizadas ao largo da costa ou diretamente sobre o país, foram os principais factores desencadeadores da degradação dos episódios de tempestade. O mês de junho de 2024 destaca-se assim como o quarto junho com maior atividade de queda de raios na história registada no país.
No entanto, a atividade de tempestade variou consideravelmente ao longo do ano. Enquanto o mês de junho foi particularmente ativo, o mês de agosto registou uma ausência virtual de episódios de tempestade, com apenas 70 raios nuvem-solo registados. Esta estabilidade pode ser explicada pela posição elevada da cintura anticiclónica, que favorece condições quentes e secas no sul da Europa. Após este período de acalmia estival, a atividade voltou a aumentar em outubro e novembro, associada a sistemas perturbados mais extensos que se estendem até ao Norte de África.
De um modo geral, a atividade eléctrica em Portugal em 2024 seguiu um padrão irregular, influenciado principalmente pela presença de gotas de frio. As águas relativamente amenas do Oceano Atlântico desempenharam um papel fundamental na alimentação de episódios de tempestade, particularmente durante as estações de inverno e outono.
Joris Royet, Responsável pelo projeto meteorológico, METEORAGE.
A nossa Rede Europeia de Deteção da Queda de Raios (ELDN) detectou em Portugal, em 2024
Factos marcantes
O dia em que ocorreu maior número de queda de raios
29 de julho de 2024
Mês em que ocorreu o maior número de queda de raios
Junho de 2024
Concelho com o maior número de queda de raios
Bragança
Foco em
Episódios de tempestade que atravessam o país a 29 de julho de 2024
por Joris Royet, Responsável pelo projeto meteorológico, METEORAGE.
Sob a influência de uma gota de frio isolada posicionada sobre o Atlântico próximo, desenvolveu-se uma instabilidade acentuada sobre o sudoeste da Europa, afectando em particular Portugal e Espanha. Simultaneamente, a França viu avançar um fluxo de sul seco e muito quente. Este contexto meteorológico favoreceu o aparecimento de várias vagas de trovoadas que se propagaram de sul para norte, alimentadas por um forte contraste térmico. Enquanto as temperaturas atingiam frequentemente 35°C a 40°C no interior de Espanha e de Portugal, o ar frio em altitude proveniente do sudoeste amplificava a dinâmica convectiva.
Este episódio foi marcado por duas vagas distintas de tempestades. A primeira afectou o Sul de Portugal de manhã com uma intensidade bastante fraca, enquanto a segunda, ligada à convergência a baixos níveis, se desenvolveu no Norte à noite, após um dia particularmente quente. Estes episódios de tempestade noturnos reforçaram-se gradualmente e migraram para o Atlântico, aumentando de intensidade.
No total, foram registados quase 3.000 raios nuvem-solo (CG) durante este evento pluviométrico, com atividade eléctrica distribuída uniformemente por todo o país.
Atividade de queda de raios (raios nuvem-solo CG) a 29 de julho de 2024
A atividade de queda de raios de Portugal em 2024
Para 2024, a densidade de raios nuvem-solo CG para Portugal é de 0,2716 raios nuvem-solo CG por km².
Sazonalidade dos episódios de tempestade
Distribuição sazonal dos raios nuvem-solo CG em Portugal em 2024
A frequência, a distribuição geográfica e a intensidade das trovoadas variam com as estações do ano, em função da temperatura, da humidade e da dinâmica atmosférica.
Na primavera, os contrastes térmicos entre o ar frio e o ar quente estabelecem-se e favorecem as primeiras trovoadas convectivas, muitas vezes acompanhadas de chuva intensa e, por vezes, de granizo ou tornados, com a atividade eléctrica a aumentar à medida que a estação avança.
No verão, são mais frequentes e violentas, alimentadas por temperaturas elevadas e fortes contrastes na passagem de gotas frias, gerando trovoadas por vezes supercelulares, daí o pico de atividade durante esta estação.
No outono, a atividade eléctrica diminui progressivamente, mas as baixas podem ainda produzir trovoadas ligadas às transições entre massas de ar, nomeadamente na proximidade de águas ainda relativamente quentes.
No inverno, embora menos frequentes, podem ocorrer trovoadas, muitas vezes perto dos oceanos ou em regiões onde as frentes frias se encontram com ar mais quente e húmido.
Top 10 dos distritos com mais queda de raios
Por número de raios nuvem-solo (CG)
Por densidade de queda de raios nuvem-solo (CG) por km²/ano
01. COIMBRA | 0,513 |
02. CASTELO BRANCO | 0,401 |
03. VIANA DO CASTELO | 0,356 |
04. GUARDA | 0,342 |
05. BRAGANÇA | 0,311 |
06. FARO | 0,286 |
07. LEIRA | 0,283 |
08. SANTARÉM | 0,281 |
09. BEJA | 0,250 |
10. VISEU | 0,248 |
Top 10 dos concelhos com mais queda de raios
Por número de raios nuvem-solo (CG)
Por densidade de queda de raios nuvem-solo (CG) por km²/ano
01. PAMPILHOSA DA SERRA | 1,279 |
02. ARGANIL | 0,968 |
03. GÓIS | 0,887 |
04. SEIA | 0,725 |
05. OLEIROS | 0,716 |
06. OLIVEIRA DO HOSPITAL | 0,709 |
07. VILA REAL DE SANTO ANTÓNIO | 0,702 |
08. ENTRONCAMENTO | 0,656 |
09. PEDRÓGÃO GRANDE | 0,651 |
10. CASTANHEIRA DE PÊRA | 0,638 |
A atividade de queda de raios de Portugal nos últimos anos
Desde 2007, a densidade de queda de raios para Portugal é de 0,0933 raios nuvem-solo (CG) por km² e por ano.
O número médio de dias de episódio de tempestade é de 42 por ano.
Nos últimos 3 anos
Distribuição mensal das actividades de queda de raios em Portugal
Número de raios nuvem-solo (CG) detectados em cada mês
Nos últimos 10 anos
Distribuição anual das actividades de queda de raios em Portugal
Número de raios nuvem-solo (CG) detectados anualmente.
Distribuição anual dos dias de episódio de tempestade
Número de dias de episódio de tempestade detectados anualmente.
Terminologia
Para uma melhor compreensão das informações comunicadas neste relatório, partilhamos consigo as definições dos termos frequentemente utilizados.
Raio nuvem-solo (CG)
Descarga de corrente de certa intensidade que circula entre uma nuvem e o solo. A abreviação CG – Cloud-to-Ground em inglês´- significa Nuvem para o solo.
Densidade de queda de raios
A melhor representação atual da atividade de tempestade é a densidade de queda de raios que é o número de raios nuvem-solo (CG) por km² e por ano.
Relâmpagos
Conjunto de descargas de corrente e de impulsos elétricos durante um fenómeno de tempestade com queda de raios. Um raio pode aparecer numa nuvem (raio intranuvem), entre uma nuvem e o solo (raio nuvem-solo CG) ou entre nuvens. Um raio pode ser composto por um ou mais arcos que são os impulsos de corrente.
Dia de episódio de tempestade
Dia quando, pelo menos, um raio foi detetado na área considerada.
Sobre o relatório de queda de raios
A nossa avaliação baseia-se nos dados fornecidos pela rede de deteção da queda de raios METEORAGE (ELDN) na Europa.
A informação que estamos a comunicar especificamente nesta análise anual diz respeito à queda de raios nuvem-solo (CG) e à densidade de queda de raios.
Para fins comparativos com os nossos dados, a METEORAGE contabiliza o impulso principal de corrente, que circula entre a nuvem e o solo e que é definido, neste relatório, pelo termo “Raio nuvem-solo (CG)”.
O relatório de queda de raios baseia-se nos dados fornecidos pela rede de deteção da queda de raios da METEORAGE, implantada na Europa.
A nossa experiência baseia-se em mais de uma dezena de anos de análise, observações e dados recolhidos na Europa e, mais largamente, no mundo. Em território francês, dispomos de mais de 37 anos de experiência.
A nossa rede, cujo desempenho foi validado cientificamente, mostra o mais alto desempenho possível com:
- uma deteção > de 98% dos raios,
- uma precisão de deteção mediana de 100 metros,
- uma distinção em mais de 90% entre os raios nuvem-solo (CG) e os raios intranuvens.
A rede METEORAGE é composta por mais de 100 sensores de queda de raios, de calculadores e de um sistema de tratamento que cria as bases de dados. Os nossos sensores de queda de raios são oriundos da tecnologia de Vaisala, atualmente considerada uma das melhores do mundo. A nossa rede permite atingir desempenhos validados por numerosos estudos e publicações científicas.
O relatório de 2024 baseia-se na mais completa fonte de informações de Portugal. Os dados, as densidades, as classificações e os dias de tempestade que figuram neste relatório vão de 1 de janeiro de 2024 a 31 de dezembro de 2024.
As informações que comunicamos estão relacionadas com os raios nuvem-solo CG e a densidade de queda de raios.